... num acredite em tudo o que o povo fala. O povo fala demais...
Dentre as figuras estranhas que habitam CUSTIPIU, destaca-se DONGA, um eterno bêbado e também um grande questionador de tudo o que ouve. Quando não está bebendo, ele trabalha como fotógrafo e, diga-se de passagem, um grande profissional. E, baseado nesta sua qualidade, CIRO, um seu vizinho que vai se casar no próximo mês, ao vê-lo naquela manhã sãozinho, sem nenhum vestígio de álcool, resolveu abordá-lo para, quem sabe, até contratá-lo para ser o fotógrafo da cerimônia.
- Seu DONGA, que prazer em vê-lo assim disposto, está até mais jovem.
- Nada, meu filho! São seus olhos que estão lhe informando errado. Eu estou é muito doente, pois tem mais de dois dias que nem consigo tomar um gole da “branquinha”. Tô num enjoo do diabo, aqui por dentro.
- Seu DONGA, o senhor precisa se cuidar mais, tá bebendo muito ultimamente, daqui uns dias estará com a saúde por demais comprometida.
- CIRO, você sabe que gosto muito de você, por isso mesmo peço-lhe que num acredite em tudo o que o povo fala. O povo fala demais. Ainda esta semana eu me zanguei com o BROGOIÓ da Bodega, pois ele foi injusto comigo.
- Como assim, Seu DONGA?
- Ele teve o desplante e o descaramento de me chamar de cachaceiro. Isto é um absurdo, chega a ser ofensivo me chamar deste nome.
- Calma, seu DONGA! Vai ver foi de brincadeira.
- Brincadeira uma ova. Eu cheguei no balcão, dei boa noite aos presentes no recinto e só então lhe pedi para me servir uma pinga.
- Foi a primeira pinga do dia?
- Pô, CIRO! Eu disse que cheguei e dei boa noite e você me pergunta se foi a primeira dose do dia? Tá maluco?
- Desculpe se lhe ofendi. Mas por que o senhor se irritou tanto?
- Ele usou um termo que não se usa num homem como eu.
- Desembucha, cara! Que termo foi este, tão ofensivo assim?
- Ele me chamou de cachaceiro e isto não é verdade.
- Como assim não é verdade?
- Claro que não é verdade. Banqueiro não é o cara dono do banco? Bicheiro não é o cara que banca o jogo do bicho? Pois então, cachaceiro é o cara que faz cachaça. Eu sou é consumidor. Entendeu agora? CONSUMIDOR.
Conclusão: Cada ato que fazemos pode ter interpretação variável, depende da conveniência de cada um.